12/05/2011
ARICA - CHILE
Peguei o táxi pra Arica logo após o meio dia. O camarada que ia nos levar pediu meu passaporte e saiu com ele lá pra dentro do terminal. Bateu certo medo. Um rapaz moreno, alto, possuidor do semblante de quem faz amizade fácil, puxou conversa comigo. Disse pra eu não me preocupar, pois a coisa ali funcionava assim mesmo. Era chileno e se chamava Adrian. Natural de Arica, pra onde estava indo visitar um primo, atualmente morava em Calama. Como todos os chilenos, estava preocupado com a provável vitória de Ollanta na disputa presidencial peruana. Chile e Peru têm disputas referentes à fronteira marítima entre os dois países e Ollanta, na campanha eleitoral, prometia fazer um governo nacionalista e, quiçá, belicoso.
O Chile teve ou tem disputas territoriais com todos os seus vizinhos. Adoro aquele país, que fique claro, mas...francamente. Devolvam o mar pra Bolívia, ordena o revolucionário que dorme debaixo da pele desse brasileiro ignorante, que nem sabe direito da história e fica querendo dar palpite.
* * *
O terminal aduaneiro integrado Arica (CHI) -Tacna (PER) é de longe mais moderno e organizado do que todas as outras aduanas por que passei, incluindo as da viagem anterior. As duas cidades ficam próximas, mas não são conurbadas. O trecho de estrada que liga os dois países deve ter cerca de 15 km.
O táxi nos deixou no terminal rodoviário de Arica, que não fica longe da entrada da cidade. Troquei meus soles peruanos por pesos chilenos com um cambista e paguei o taxista em moeda nova. Adrian me guiou até o guichê onde eram vendidas passagens de Arica para Calama (para onde ele iria) e San Pedro de Atacama (meu próximo e tão aguardado destino) e me levou até o guarda-volumes, onde deixei minha mochila, já sem medo algum. Desapego quase total. Me despedi do novo amigo provisoriamente, pois logo mais, à noite, nos encontraríamos novamente, já que viajaríamos no mesmo ônibus (Arica-Calama-San Pedro de Atacama).
Sem o cuidado devido, saí a caminhar pelas ruas sujas de Arica. O caminho da rodoviária à praia passava obrigatoriamente por uma região industrial onde dezenas de fábricas médias, grandes e pequenas, de muros longos e calçadas mal conservadas e desertas, davam um ar de faroeste ao meu rolê. A medonha sensação de que seria atacado por algum cachorro, a qualquer momento, me acompanhava. Mas eu seguia.
Na praia, além de mim e do lixo acumulado, havia um jardineiro a cuidar da uma área verde que existe na beira do calçadão. Mais à frente havia um playground triste, ausente de pibes. Ao longo da areia suja, se via cachorros de vários tipos, com caras de loucos e famintos, sujos de areia e sal. Haviam aves também, pra todo lado.
Não tão longe do pedaço de areia onde me sentei, se via um grupo de meninas colegiais. Uma delas, gordinha, arriscou um mergulho n'água e dentro do mar permaneceu por mais de dez minutos. Eu fiquei ali parado, não sei por quanto tempo, olhando o mar, a areia escura, o sol mínimo, apagado pelas nuvens cinzas que cobriam o céu de fora a fora. O dia estava triste.
Lembrei-me do companheiro Marcel, da nossa andança pelas areias daquele mesmo oceano Pacífico em Viña del Mar, um ano atrás. Me fez falta sua energia e disposição. Pensei que aquele momento seria melhor vivido se ele estivesse ali. Se assim fosse, certamente andaríamos um pouco pelo mar, pararíamos alguém pra perguntar alguma coisa boba, sentaríamos num bar, tomaríamos alguma cerveja local, e conversaríamos sobre como era bom estar conhecendo mais um pedaço do Chile; talvez falaríamos algo sobre música e fatalmente planejaríamos alguma balada pra noite que se aproximava veloz.
O fato é que eu estava ali sozinho. E melancólico, um pouco além do limite. Voltei pra rodoviária; pedi um lanche, que joguei fora, pois estava mais que ruim; saquei um pouco mais de dinheiro chileno num caixa eletrônico credenciado; peguei um táxi coletivo e fui pro centro da cidade. Comi uma boa McOferta num dos McDonalds mais bonitos que já vi e andei que nem cachorro perdido. Vi muita coisa bonita, mas o que me encantou mesmo, mais que tudo, foi o livro que comprei numa feirinha de rua: El vaso de leche y otros cuentos, de Manuel Rojas.
Sem o cuidado devido, saí a caminhar pelas ruas sujas de Arica. O caminho da rodoviária à praia passava obrigatoriamente por uma região industrial onde dezenas de fábricas médias, grandes e pequenas, de muros longos e calçadas mal conservadas e desertas, davam um ar de faroeste ao meu rolê. A medonha sensação de que seria atacado por algum cachorro, a qualquer momento, me acompanhava. Mas eu seguia.
Na praia, além de mim e do lixo acumulado, havia um jardineiro a cuidar da uma área verde que existe na beira do calçadão. Mais à frente havia um playground triste, ausente de pibes. Ao longo da areia suja, se via cachorros de vários tipos, com caras de loucos e famintos, sujos de areia e sal. Haviam aves também, pra todo lado.
Não tão longe do pedaço de areia onde me sentei, se via um grupo de meninas colegiais. Uma delas, gordinha, arriscou um mergulho n'água e dentro do mar permaneceu por mais de dez minutos. Eu fiquei ali parado, não sei por quanto tempo, olhando o mar, a areia escura, o sol mínimo, apagado pelas nuvens cinzas que cobriam o céu de fora a fora. O dia estava triste.
Lembrei-me do companheiro Marcel, da nossa andança pelas areias daquele mesmo oceano Pacífico em Viña del Mar, um ano atrás. Me fez falta sua energia e disposição. Pensei que aquele momento seria melhor vivido se ele estivesse ali. Se assim fosse, certamente andaríamos um pouco pelo mar, pararíamos alguém pra perguntar alguma coisa boba, sentaríamos num bar, tomaríamos alguma cerveja local, e conversaríamos sobre como era bom estar conhecendo mais um pedaço do Chile; talvez falaríamos algo sobre música e fatalmente planejaríamos alguma balada pra noite que se aproximava veloz.
O fato é que eu estava ali sozinho. E melancólico, um pouco além do limite. Voltei pra rodoviária; pedi um lanche, que joguei fora, pois estava mais que ruim; saquei um pouco mais de dinheiro chileno num caixa eletrônico credenciado; peguei um táxi coletivo e fui pro centro da cidade. Comi uma boa McOferta num dos McDonalds mais bonitos que já vi e andei que nem cachorro perdido. Vi muita coisa bonita, mas o que me encantou mesmo, mais que tudo, foi o livro que comprei numa feirinha de rua: El vaso de leche y otros cuentos, de Manuel Rojas.
De volta à rodoviária, entrei na internet via lan house local. Matei saudades dos e-mails, falei com Rocio, a amiga mendocina, via Facebook. Falei com a Nena, via msn. E fui prum dos bancos próximos à área de embarque esperar o ônibus. Ali, sentado em desconforto, abri o livro recém comprado e li a primeira história, "El vaso de leche". Achei a mensagem tão tocante, tão bonita e, talvez por estar mais sensível do que devia, chorei ali mesmo, sem me preocupar com nada nem ninguém. O deserto do Atacama me esperava, a parte mais verdadeira da viagem estava chegando, e eu nem havia me dado conta disso, ainda. Mas já chorava, como quem tem um entendimento prévio e subconsciente de que pra entrar no deserto é preciso estar com a alma limpa. E eu estava.
O Atlântico que eu conheço é mais bonito.
Arica, sempre no meu coração.
Mais uma peatonal chilena.