A cidade e o salar de Uyuni: Uyuni é uma pequena cidade da província de Potosí. É ponto de partida das expedições para o deserto de sal. Dizem os estudiosos que cerca de 40.000 anos atrás havia um gigantesco lago onde hoje se localiza o deserto salgado de Uyuni. O lago secou e dele restou a extensa planície de sal, a maior do mundo, conhecida como Salar de Uyuni.
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17/05/2011
Espetacular esse nome, não? Salar de Uyuni. Quando ouvi falar dele pela primeira vez já rolou um sentimento que seria equivalente, caso se tratasse de uma mulher, a uma paixão platônica. Paixão porque era algo que doía, que remoía, que causava desconforto, que desafiava, e portanto, ao menos no primeiro momento, não era amor; platônico porque parecia algo dum outro mundo, algo que, embora me pertencesse num nível não consciente nem palpável, aparentemente não poderia ser alcançado nessa vida. Sempre tive mania de transformar coisas reais e possíveis em quimeras.
O lado bom de se impressionar exageradamente com tudo é que me tornei um sujeito de imaginação fértil e tirei emoções absurdas de coisas absolutamente banais, transformando situações normais em algo grandioso. O lado ruim é que em muitos períodos (às vezes durante meses ou anos a fio) tenho crises de fantasia, crio problemas que na verdade não existem, vejo a realidade de forma incorreta, alimento pesadelos, somatizo doenças.
Mas estamos aqui pra falar do tal salar que me desafiou desde o primeiro momento, como que me convocando: 'vem me ver que estou te esperando pra marcar sua vida pra sempre'. Sim, o maior salar do mundo (que fica aqui na nossa Bolívia, na nossa América do Sul, sim, senhor) decretou que eu não poderia morrer sem conhecê-lo. E como é difícil falar dele. Como descrevê-lo? Vou dizer que é uma enorme planície branca, que é impossível estar nela sem óculos escuros porque o sol reflete e cega de um jeito único, vou dizer que o lugar parece infinito, que quando olhamos de longe as pessoas ficam minúsculas, como formigas se esbaldando num mar de açucar. Vou falar, falar, falar e você não vai entender.
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O horário marcado para saírmos rumo ao salar era 9h30 da manhã, se não me engano. Acordei bem antes disso, tomei café com o casal de ingleses e com o espanhol, saí pra dar um 'peão' pelas ruas de Uyuni. Comprei uma camisa (ficou grande, descobri depois), alguns cds de hip hop e rock boliviano e peruano que até hoje não ouvi. Comi uma empanada de carne e conversei uns minutos com Doro, que já nos esperava. Falamos sobre a situação de pobreza da Bolívia, sobre a política de Evo, sobre como o fato de não ter saída ao mar prejudica aquele país..
E lá fomos nós respirar sal e sol. Primeiro passamos por um cemitério de trens, que antigamente eram usados pra o transporte de sal e outros minérios. Em breve, pelo que Doro disse, o cemitério será transformado num museu de verdade, organizado. Depois passamos por uma feira de artesanato de objetos de sal e logo a frente chegamos ao branco infinito.