19/05/2011
Acordei muito cedo, com uma leve ressaca, dispensei o desayuno e desci as escadas do hostel em direção à rua, pra esperar a van que me levaria a Cafayate. O simpático e afeminado recepcionista disse que eu poderia esperar ali dentro, pois tocariam a campainha pra me chamar, mas preferi ir pra rua. Sentei-me na beiradinha da mureta do ponto de ônibus, ao lado duma mulher bem humorada que esperava seu circular. Ela puxou assunto comigo. Se encantou por eu ser brasileiro, por estar viajando sozinho, e me contou partes importantes de sua vida. Trabalhava de empregada doméstica em casa de gente importante, fora casada mas estava separada do marido há um bom tempo, tinha dois filhos jovens. Mostrava otimismo e resignação. A resignação racional de quem tem que se virar pra sobreviver e lida com isso natural e orgulhosamente. Mostrava simplicidade. Não lembro exatamente do rosto da mulher, muito menos do nome, mas sua voz e as palavras que falou estão bem guardadas. E ficaram de exemplo. São pequenas conversas de viagem, como essa, que permanecem e se fixam na memória das emoções. Exemplos de simplicidade não faltam, falta certa atitude pra segui-los.
A van atrasou uns minutinhos. Fui o último a ser pego e acabei indo na frente com o motorista, um gordinho corado, falante dum espanhol marcado e bem articulado, possuidor de boa dicção. Falava muito, o homem, explicando cada paisagem por onde passávamos, contando histórias. Trocava os cds a todas hora. Colocou um do Roberto Carlos, em homenagem ao Brasil. Uma dupla de senhoras originárias de Buenos Aires, mãe e filha, delirou com as músicas do rei. Rei pros outros, não pra mim.
Além das porteñas, havia dois casais de espanhóis, uma moça da Alemanha e um casal de alguma parte da Argentina. Todos simpáticos e falantes. Me ofereceram chicletes, água. Não aceitei e demorei pra me entrosar. Fiquei tímido no meio daquele povo. Pareciam todos mais adultos, maduros, na vibe do turismo familiar, não da aventura, como eu.
A cidade de Cafayate é muito bonita, pequena e charmosa, cheia de bodegas. O trajeto até ela é mais bonito ainda, conhecido como 'quebrada de Cafayate'. Na verdade, a estrada que liga Salta a Cafayate segue o curso do rio de las Conchas. O caminho é chamado de quebrada por ser mais estreito que um vale comum. Possui formações rochosas cuidadosamente esculpidas pelo vento e pela chuva, ao longo do tempo.
Além das porteñas, havia dois casais de espanhóis, uma moça da Alemanha e um casal de alguma parte da Argentina. Todos simpáticos e falantes. Me ofereceram chicletes, água. Não aceitei e demorei pra me entrosar. Fiquei tímido no meio daquele povo. Pareciam todos mais adultos, maduros, na vibe do turismo familiar, não da aventura, como eu.
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A cidade de Cafayate é muito bonita, pequena e charmosa, cheia de bodegas. O trajeto até ela é mais bonito ainda, conhecido como 'quebrada de Cafayate'. Na verdade, a estrada que liga Salta a Cafayate segue o curso do rio de las Conchas. O caminho é chamado de quebrada por ser mais estreito que um vale comum. Possui formações rochosas cuidadosamente esculpidas pelo vento e pela chuva, ao longo do tempo.
O caminho...
A pequena cidade...
Música folclórica salteña...
Na volta, o pessoal veio conversando de política. O espanhol dizendo que a crise vivida por seu país se devia ao fato do governo haver liberado, durante um certo tempo, crédito muito grande para a população. Era possível comprar de tudo, e pagar em não sei quantos anos. Entrei na conversa e disse que o Brasil estava indo pro mesmo rumo e que quebraria daqui uns anos se não mudasse. E o papo se estendeu...o motorista criticando as políticas de apoio aos mais pobres praticadas por Cristina Kirchner, que vão na linha do Bolsa Família, implantado por Lula. Entrei na conversa de novo e disse: "quando praticada na Europa, esse tipo de política, dizem, é filha do welfare state, quando praticada na América do Sul, é chamada de populismo; no Brasil, o que o Lula fez deu certo, e aqui vai dar também". A van toda aplaudiu minha comparação simplista e verdadeira. E pude ir orgulhoso, depois de me despedir de todos e tomar um banho no hostel, pruma casa onde tocava música folclórica salteña, algo mais ou menos equivalente ao nosso sertanejo raiz. Haja cerveja pra tanta sede!
"Moja tus pies en su arena,
entra a esta tierra viajero
y bebe de ese venero
que tiene su gente buena,
si hay algo que te encadena
y queda dentro de ti,
cuando te vayas de aquí,
llévate para tu viaje
de Cafayate el paisaje
y este cielo Calchaquí."
José Ríos