21/05/2011
Conforme relatado no post anterior, passei vinte e três horas no ônibus, entre Salta e Puerto Iguazu. Acho que meu corpo nem estranhou o fato de ficar tanto tempo sentado/deitado, pois nos últimos 23 dias eu havia passado por tantos solos diferentes, caminhando, e permanecido sem andar dentro de tantas variedades de veículos terrestres, que àquela altura do campeonato, quando só faltava levantar a taça, meu esqueleto e meus músculos não podiam estranhar mais nada, só seguir inertes. E a inércia nesse caso era mágica e ilógica, impossível de ser mensurada, explicada, entendida.
Desci na rodoviária de Puerto Iguazu e até estranhei a tranquilidade do lugar. Atravessei uma passarela colorida que leva até a área de embarque intermunicipal e, sentindo o peso da bagagem e o vento da fronteira no rosto, não pude deixar de sentir orgulho de mim mesmo. Eu não havia ganho nenhuma guerra, não havia obtido nenhuma grande promoção no trabalho, não havia desbravado nenhuma região inóspita, continuava tão perdido e tão pobre quanto antes, mas estava terminando uma viagem que me propusera a fazer desde muito tempo, e isso era sim, e continua sendo, motivo de alegria e realização.
Pensei em prolongar minha estada em Puerto pra terminar a Infinita América II do jeito que começamos, eu e Marcel, a Infinita América I, curtindo a noite da cidade fronteiriça argentina, tomando Quilmes de um litro no gargalo, brincando de ser revolucionário ou bon vivant. Ou os dois. Mas olhei pro céu que podia ser brasileiro ou estrangeiro e percebi que a viagem tinha chegado ao fim. Peguei o coletivo que me levaria até Foz do Iguaçu e desci num ponto perto da região central, já em terras brasileiras. Tirei uns trocados no banco e parti de moto táxi pra rodoviária da cidade. Devia ser quase cinco horas da tarde e o sol brilhava forte na cidade paranaense. Comprei a passagem pra Araraquara, atravessei a rua morta da parte de baixo da rodoviária e descansei o corpo e a mochila num bar tomado por mesas com propaganda da Brahma e da Skol e por gente de estirpes variadas. Tomei 4 garrafas sozinho, e tomaria mais. A boa e velha Brahma.
Eu já estava na terceira garrafa, misturando fantasia e realidade, quando um cara que parecia a mistura do Gilberto Gil com certo andarilho que conheci em Araraquara começou a tocar reggaes, sambas e mpbs. Um sujeito da mesa do lado pediu pro músico tocar Ventania, e ele tocou Só para Loucos. Cantei junto, errando a letra, obviamente. Tomei a saideira e deixei vinte reais de gorjeta. O artista estranhou. Respondi que ele merecia e me fui.
Eu já estava na terceira garrafa, misturando fantasia e realidade, quando um cara que parecia a mistura do Gilberto Gil com certo andarilho que conheci em Araraquara começou a tocar reggaes, sambas e mpbs. Um sujeito da mesa do lado pediu pro músico tocar Ventania, e ele tocou Só para Loucos. Cantei junto, errando a letra, obviamente. Tomei a saideira e deixei vinte reais de gorjeta. O artista estranhou. Respondi que ele merecia e me fui.
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22/05/2011
A viagem de volta pra Morada do Sol foi tranquila. Dormi quase o caminho todo, ajudado pela mistura de cevada e álcool que tanto acalma. Os vinte e três dias de viagem passaram voando. Parece que foram vinte e três horas bem vividas. Na rodoviária, não havia ninguém me esperando. Mas Araraquara, como sempre, me recebeu de braços abertos, com um céu azul e uma brisa de outono que lograram me emocionar. Meus pais me esperavam curiosos e admirados, com o almoço quase pronto, e pudemos conversar com um despojamento e uma verdade poucas vezes conseguidos por nós até então.
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Antes de voltar a trabalhar ainda tive uma semana de férias que aproveitei pra organizar este blog, as fotos, os encontros pra por as conversas em dia. Poucas pessoas se interessaram pelas coisas que vivi e contei aqui, mas justamente essas poucas são as que valem, e são suficientes. E não posso deixar de agradecer a você que leu, acompanhou e tentou compartilhar das experiências desse sujeito contraditório, egoísta e falastrão, que usou muito desse espaço pra se exibir, mas que também tentou, de coração, experimentar o prazer da felicidade compartilhada, por acreditar, embora ainda não consiga colocar a crença em prática, que só ela é verdadeira.
O combate ao egoísmo continua e continuará pra sempre. Pra isso, precisamos uns dos outros, e por isso quero vocês ao meu lado. E me coloco, com o pouco que hoje tenho, à disposição.
O combate ao egoísmo continua e continuará pra sempre. Pra isso, precisamos uns dos outros, e por isso quero vocês ao meu lado. E me coloco, com o pouco que hoje tenho, à disposição.
\o/
ResponderExcluirque bonito!