meados de abril, 2011
Numa sexta-feira de 2002, após sair mais cedo da faculdade e não encontrar companhia alguma (onde estava você, meu amigo Nikiba?) para comemorar o início do fim de semana tomando quantidades razoáveis de copos de cerveja em frente ao bar Brasileirinho, acabei indo triste e frustrado pra casa. Lá chegando, melancólica e rapidamente abri e esvaziei goela abaixo duas latas de Skol enquanto fingia assistir a algum filme nacional que passava na TV Cultura.
Entre os goles fartos de cerveja eu tentava mirar e me concentrar no filme, mas não conseguia. A velha ansiedade que me toma quando percebo que há algo a fazer (ou alguma decisão importante a tomar), mas ainda não sei exatamente o que, me flertava agressivamente, tal qual operador de televendas insistente.
As sensações e memórias da recém realizada viagem de ônibus de Uberlândia a Recife (salve Otto e Nação Zumbi) retumbavam na minha cabeça e me deixavam inquieto, com gosto de quero mais, me dando dicas de que a tal ansiedade tinha algo a ver com isso: com viagens, com estradas. Peguei um caderninho simples (nessa época eu sequer imaginava que um dia ganharia um moleskine de presente) e numa estranha inspiração comecei a escrever os lugares que gostaria de visitar ou revisitar brevemente.
Segue abaixo, com algumas alterações que a idade e a vergonha exigiram que eu fizesse, as notas daquela noite:
As sensações e memórias da recém realizada viagem de ônibus de Uberlândia a Recife (salve Otto e Nação Zumbi) retumbavam na minha cabeça e me deixavam inquieto, com gosto de quero mais, me dando dicas de que a tal ansiedade tinha algo a ver com isso: com viagens, com estradas. Peguei um caderninho simples (nessa época eu sequer imaginava que um dia ganharia um moleskine de presente) e numa estranha inspiração comecei a escrever os lugares que gostaria de visitar ou revisitar brevemente.
Segue abaixo, com algumas alterações que a idade e a vergonha exigiram que eu fizesse, as notas daquela noite:
"Meus destinos de médio prazo
São Tomé das Letras - nas próximas férias;
Porto Alegre - na oportunidade que virá;
São Paulo - sempre "de vez em quando", pelo Corinthians;
Bolívia - quando a erupção fatal (como aquela do poema) ocorrer;
Recife - retornarei pra enfim aprender o batuque do maracatu;
Belém - as paralelas ainda se cruzam;
Buenos Aires - por qualquer pretexto;
Avellaneda - pelo Racing Club, juro que vou;
De moto pela América do Sul - pelo Che que vive em nós;
Machu Picchu - para agradecer à Pacha Mama."
Reparem que são lugares acessíveis, onde qualquer rapaz simples poderia chegar.
Até 2002 eu não tinha medo ou vergonha de sonhar. Fazia planos, acreditava, de qualquer quintal fazia cidades. Depois, não sei o que se deu, mas passei por uma longa Idade Média, um período de pudor excessivo e ceticismo, de moral baixa, de fraca inspiração, de visão curta, de mala leche. Diante dos bambas que falavam da vida como se tivessem o mundo nas mãos, eu me apequenava, me achicava. Seria a passagem tardia da adolescência pra parte 1 da fase adulta? Não sei. Mas isso, graças a Deus, passou. Afinal, toda treva há de se iluminar um dia.
Ainda que não me sinta capaz de segurar o mundo nas mãos, tenho a mente plugada e conectada no continente que me basta, essa vasta América do Sul, que cabe quase inteira nesse quase honesto coração. Num nível subconsciente aqueles sonhos che guevarianos de viagens e revoluções iniciados na década de noventa e resumidos no caderninho mencionado permaneceram recolhidos, esperando a hora certa de se libertarem.
As pessoas, no fim das contas, se tornam o que pensam, o que sonham, o que buscam. Acredite, você pode mudar a si mesmo e inspirar as pessoas ao seu redor. Pode mudar o mundo, o seu mundo, como 'os grandes' o fizeram. Quem garante que não há 'um grande' escondido debaixo da tua pele? Em espírito e essência, quem tu és? O que há por dentro desse escafandro de carne que carregas na vida terrena? Ah, se conseguíssemos só pensar, sonhar e buscar coisas boas...
Ainda que não me sinta capaz de segurar o mundo nas mãos, tenho a mente plugada e conectada no continente que me basta, essa vasta América do Sul, que cabe quase inteira nesse quase honesto coração. Num nível subconsciente aqueles sonhos che guevarianos de viagens e revoluções iniciados na década de noventa e resumidos no caderninho mencionado permaneceram recolhidos, esperando a hora certa de se libertarem.
As pessoas, no fim das contas, se tornam o que pensam, o que sonham, o que buscam. Acredite, você pode mudar a si mesmo e inspirar as pessoas ao seu redor. Pode mudar o mundo, o seu mundo, como 'os grandes' o fizeram. Quem garante que não há 'um grande' escondido debaixo da tua pele? Em espírito e essência, quem tu és? O que há por dentro desse escafandro de carne que carregas na vida terrena? Ah, se conseguíssemos só pensar, sonhar e buscar coisas boas...
final de maio, 2011
Como diz Manu Chao em Desaparecido, há um motor e uma dor aqui dentro que me impulsionam, me fazem caminhar, sair pro mundo, não há como resistir. Assim, não tive escapatória e resolvi cumprir parte da promessa que firmei naquele caderninho roto. E fui mesmo pra Machu Picchu agradecer as bênçãos! E pra alguns outros lugares também!
Nesse blog, o Infinita América II, vou contar as peripécias e peregrinações que fiz em maio de 2011 durante 23 dias de viagem pelo Centro-oeste do Brasil, Bolívia, Peru, Chile e Argentina. Hablaré sobre cordilleras, desiertos de sal y arena, sobre soledad y libertad.
Dividi o blog em 3 partes, três seções (ver na parte superior direita, Páginas do blog):
- Seção 1 - Início - nas páginas dessa seção constarão os Arquivos do blog, todas as postagens que eu for publicando, contando as histórias da viagem;
- Seção 2 -Informações aos futuros viajantes - essa seção tem uma página única, onde colocarei pormenorizadamente todos os gastos da viagem, os meios de transporte utilizados, os lugares onde me hospedei, os preços dos passeios e outras utilidades que publiquei também no site mochileiros.com como forma de agradecimento a todas as informações que obtive ali.
- Seção 3 -Trilha Sonora - essa seção, de página única também, vai reunir num só lugar as música compartilhadas por mim ao longo das postagens da Seção 1 - Início; pra cada postagem, escolherei pelo menos uma canção pra compartilhar e na seção Trilha Sonora constará uma espécie de coletânea de todas essas canções (pra homenagear quem massageou meus ouvidos e minha alma na solidão dos coletivos, ônibus e trens).
Nesse blog, o Infinita América II, vou contar as peripécias e peregrinações que fiz em maio de 2011 durante 23 dias de viagem pelo Centro-oeste do Brasil, Bolívia, Peru, Chile e Argentina. Hablaré sobre cordilleras, desiertos de sal y arena, sobre soledad y libertad.
Dividi o blog em 3 partes, três seções (ver na parte superior direita, Páginas do blog):
- Seção 1 - Início - nas páginas dessa seção constarão os Arquivos do blog, todas as postagens que eu for publicando, contando as histórias da viagem;
- Seção 2 -Informações aos futuros viajantes - essa seção tem uma página única, onde colocarei pormenorizadamente todos os gastos da viagem, os meios de transporte utilizados, os lugares onde me hospedei, os preços dos passeios e outras utilidades que publiquei também no site mochileiros.com como forma de agradecimento a todas as informações que obtive ali.
- Seção 3 -Trilha Sonora - essa seção, de página única também, vai reunir num só lugar as música compartilhadas por mim ao longo das postagens da Seção 1 - Início; pra cada postagem, escolherei pelo menos uma canção pra compartilhar e na seção Trilha Sonora constará uma espécie de coletânea de todas essas canções (pra homenagear quem massageou meus ouvidos e minha alma na solidão dos coletivos, ônibus e trens).
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No meu coração medianamente bondoso, desejoso de paz e quase sem fronteiras realmente cabia mais que um país. Vamos comigo por montanhas e desertos de pedra, areia e sal. Vamos juntos e livres. De solidão, já basta o tempo que passei na estrada.
já faz algum tempo que embarquei nessa viagem (de leitura de seus escritos) e não retornava aqui, aos primeiros posts, desde então.
ResponderExcluire tanta coisa aconteceu, né?
decidi hoje, carente que estou de você, reler tudo. post por post.
cá estou. e já começo assim, encantada, bem do jeito que estava quando tudo começou.
como é que eu posso não amar, admirar e me encantar (e ter isso renovado a cada dia) pelo 'grande' que escreveu isso:
"As pessoas, no fim das contas, se tornam o que pensam, o que sonham, o que buscam. Acredite, você pode mudar a si mesmo e inspirar as pessoas ao seu redor. Pode mudar o mundo, o seu mundo, como 'os grandes' o fizeram. Quem garante que não há 'um grande' escondido debaixo da tua pele? Em espírito e essência, quem tu és? O que há por dentro desse escafandro de carne que carregas na vida terrena? Ah, se conseguíssemos só pensar, sonhar e buscar coisas boas..."