COPACABANA (kotakahuana, no idioma indígena AYMARA, significa Vista do Lago): é a principal cidade boliviana na beira do Titicaca; ponto de partida pra famosa Ilha do Sol (Isla del Sol); localizada a mais de 3.800m acima do nível do mar;
A ILHA DO SOL: ilha que fica no meio do Lago Titicaca; era considerada sagrada já pelos Tiwuanacos e também pelos Incas, que vieram depois; possui diversos sítios arqueológicos preservados; tem um governo autônomo e democrático, chefiado por um cacique indígena; na ilha se fala os idiomas espanhol, aymara e um pouco do quechua (língua oficial do império Inca).
Na praça central de Copacabana um homem distribuía panfletos do Hostel Sonia e se oferecia para guiar até a hospedaria quem topasse fechar negócio. Como eu não havia reservado nada e tinha lido algo nem muito positivo nem muito negativo sobre o Sonia no mochileiros.com, fechei com o sujeito. Dois franceses que por ali erravam toparam também. Tentei puxar assunto com os eles, mas ambos estavam um tanto loucos não sei se de álcool ou de algo mais e falavam o espanhol pessimamente. Desisti. E fui só, com meu soroche.
Logo de cara não gostei do hostel. Achei sujo, desorganizado. Subi pro quarto, deixei as coisas sobre a cama, coloquei o celular (que na viagem só me serviu de relógio e despertador) pra carregar e saí pra rua atrás de algo para comer. Parei numa agência de turismo e paguei o passeio pra Ilha do Sol, pro dia seguinte.
Entrei num restaurante que só vendia pizzas. Não havia ninguém atendendo, somente duas moças sentadas numa mesa, aparentemente aguardando para serem servidas. Uma delas me deu sinal informando que havia algum funcionário ao fundo do restaurante. Cheguei mais pra dentro do lugar e avistei uma mulher num outro cômodo que parecia ser uma cozinha. Perguntei se estavam atendendo e pedi uma pizza pequena.
Parei perto das moças e perguntei de onde vinham. Disseram ser argentinas e me convidaram pra sentar com elas. Enquanto aguardávamos as pizzas, trocamos algumas informações de viagem. Elas vinham de alguma cidade da província de Chubut, patagônia argentina, e tinham feito a travessia do Deserto do Atacama pra Uyuni. Fiquei interessado, porque eu também faria esse percurso. Porém, as informações que me deram não foram nada animadoras. Disseram ter passado um frio fora do comum no deserto do lado boliviano. Falaram com tanto drama (os argentinos são realmente dramáticos) e com tanta verdade que cheguei a ficar com medo.
Comi a pizza sem muita vontade (mas não deixei nenhum pedaço pro santo), me despedi das argentinas, dei uma volta rápida pelos arredores e voltei pro hostel. Minha ideia era tomar um bom banho e dormir bem, recobrando as forças pro dia seguinte, mas a água do chuveiro não esquentava nem a pau, então resolvi dormir suado e sujo mesmo, estilo guerrilheiro.
Eu estava cansado, com sono, mas não conseguia dormir. Uma cólica intestinal filha da puta, que logo evoluíu pruma diarréia fenomenal e sem fim, me capturou de jeito. A cada meia hora lá estava eu, fazendo careta, puto da vida. Pra piorar, não havia papel higiênico no banheiro e tive de me desfazer de dois pares de meias comprados especialmente para a viagem. Triste sina...
Perdida no tempo.
* * *
06 de maio de 2011
Pra Ilha do Sol é que se vai...
Acordei cedo, tomei um chá de coca no hostel e guardei minha mochila numa sala ao lado da recepção, já que não poderia deixá-la no quarto (a diária expiraria) nem levá-la comigo pra ilha, pois estava muito pesada. Não reclamei sobre a água gelada nem sobre a falta de papel higiênico, mas fechei a conta olhando feio pra recepcionista, que na verdade, ao que me pareceu, era mãe do dono da espelunca.
Fui até a beira do lago, de onde partiriam os barcos pra Ilha do Sol. A travessia demorou cerca de 1h30. Pelo que observei, não havia ninguém sozinho, sem companhia, além de mim. Aparentemente todos estavam em grupos. No banco atrás do meu, sentaram-se três garotas. Falavam espanhol e usavam o 'vos' ao invés do 'tu'. Por isso, e pelo sotaque marcante, pude notar que eram argentinas. Somente uma delas falava, as outras só ouviam.
O barco não era tão pequeno, abrigava umas 30 ou 40 pessoas. Passei o trajeto todo calado, tentando identificar algum falante de português, mas não consegui. Mesmo assim pude perceber que haviam dois rapazes brasileiros a bordo. É engraçado isso, mas muitas vezes, só de olhar, sei que a pessoa é da Terra de Santa Cruz.
Ao descer do barco me juntei a um grupo que participaria da visita guiada pela ilha e pude confirmar que os dois caras eram brasileiros mesmo. Nos apresentamos e trocamos algumas ideias sobre o roteiro de viagem de cada um. Os dois haviam vindo juntos, estavam há quase um mês na estrada e eram amigos de longa data. Fizemos o passeio juntos e acho que na verdade a relação entre os dois ia além da amizade.
Águas sagradas do Titicaca
O passeio pela ilha durou umas três ou quatro horas e consistiu em percorrê-la a pé, parando nos sítios arqueológicos para ouvir as explicações do guia que se chamava Juan. Aquele homem falava com tanta propriedade, com tanta emoção sobre a ilha, que era 'seu lugar'; denotava um sentimento de 'pertencimento', de domínio ao pedaço que lhe cabia no mundo, e um orgulho tão grande de ter nascido e permanecido ali; tinha uma voz que transbordava a humildade dos sábios e dos justos. Foi impressionante e mágico estar naquela ilha de beleza extraordinária, carregada de história, ouvindo o homem falar de coisas tão conhecidas e tão diferentes. Uma energia positiva pairava no ar e me peguei emocionado várias vezes, durante as explicações de Juan.
Na volta, eu e os dois brasileiros (Eduardo e Vinícius) acabamos fazendo amizade com as três argentinas que na ida tinham vindo no banco detrás. Mantive a impressão desagradável em relação à 'mais falante' do trio, mas as outras duas me pareceram muito legais, humildes, argentinas e sulamericanas de verdade.
Chegando em Copacabana ainda deu tempo de tomar uma cerveja com os novos amigos em homenagem ao Mercosul antes de resgatar a mochila no hostel e pegar o ônibus que me levaria à cidade de Puno, também banhada pelo Titicaca, mas em território peruano.
Clique, ouça e veja: Awatiñas - Música Aymara e Ama - Trilogia Aymara
gostei muito, muito da seleção de fotos que fez pra este post.
ResponderExcluirpredominancia total de azul, e uma energia tão boa nas imagens...
ah, tb nao dá pra dizer que nao ri um pouco com a história das meias.
tivesse levado os lencinhos que te falei e isso nao teria acontecido, rs.
bjo
Esse dia, na ilha, uma energia tão boa pairava no ar que só de lembrar posso senti-la. Isso 'pegou' nas fotos, com certeza.
ResponderExcluirPois é, nena. Eu deveria ter ouvido seu conselho. Maldita teimosia. bjo
só pra reforçar que gostei muito, muito da seleção de fotos.
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