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26 - Espera, fronteira e casa

17/05/2011

Espera

     Chegamos de volta a cidade de Uyuni pelas quatro horas da tarde. Havia pouca coisa pra fazer. Estávamos extasiados ainda depois da visita ao grande salar. O bom mesmo seria passar a noite no deserto de sal pra ver o efeito das estrelas no chão branco. Infelizmente não foi possível, fica pra próxima. O que restou foi esperar dentro do hotel, conversando com o restante do pessoal, andar pela cidade, voltar pro hotel e esperar mais.
     Numa das esperas conhecemos um grupo de europeus que passaria a noite ali e no dia seguinte faria a rota até o sal. Uma das integrantes, espanhola braba,  reclamou do estado em que tínhamos deixado o banheiro do nosso quarto (meu e de Francisco, o espanhol). Deixei a discussão pro meu parceiro, pensando 'eles são espanhóis, eles que se entendam'. O camarada explicou que não era culpa nossa, pois  realmente havia um vazamento que impedia o chão de ficar totalmente seco. Acho que ela entendeu.

     Meus 'bolivianos' (dinheiro local) estavam acabando. Tive que escolher entre uma breja ou comida. Optei pela breja, pois gosto de ter a sensação de que fui guerreiro e dormi mesmo com fome. Todos da minha turma iriam para La Paz, só eu faria o caminho contrário, em direção à Villazón/La Quiaca (fronteira entre Bolívia e Argentina). Fiquei triste, com uma saudade antecipada. Ajudei a turma a levar as malas até o ponto de onde sairia o ônibus e me despedi. Esperei mais uma hora na recepção do hotel. Conheci duas argentinas de meia idade, muito simpáticas, conversadeiras, Mirthes e Marcela. Fiz amizade sincera com a moça simples que limpava e ajudava a recepcionar no hotel, uma boliviana cujo nome me esqueci. Fiquei brother do guarda noturno, um argentino de Santa Fé, torcedor do Unión (que subiu pra primeira divisão), poliglota total (5 ou 6 línguas, o caboclo falava). Fui a pé pra estação de trem, mesmo com o convite das argentinas pra eu ir com elas de táxi, e isso arrancou elogios do guarda noturno, que disse num razoável português: 'ele é brassileiro, paulista, e não tem medo de nada!'. Fiz sinal de positivo pro brow, tchauzinho a la V. pras hermanas e parti com a mochila que a essas horas nem pesava mais.


18/05/2011

Fronteira e casa

    A viagem de trem foi apertada e sonada (fiquei num 'dorme-acorda' de dar dor nas costas). Um sujeirto gordo estava ao meu lado e ocupava parte do meu banco. Chegamos em Villazón cedinho, estava frio demais, me deu saudade do clima brasileiro. Peguei o mochilão no bagageiro do trem e e saí a pé em direção a La Quiaca, o lado argentino da fronteira. Dois ingleses de Liverpool, que torciam pro Manchester (achei isso um absurdo tão grande quanto um paulista torcer pro Vasco da Gama), aproveitaram minha determinação de brasileiro raçudo e me seguiram a duras penas.

   Atravessei a fronteira tranquilamente. A área do controle fronteiriço estava vazia e os policiais e funcionários argentinos foram muito gente boa. Estou em casa, foi o que senti. Realmente me sinto muito bem na Argentina. Se nos outros países por onde passei eu me senti quase não estrangeiro, nas terras prateadas do país que é nosso maior rival e melhor amigo ao mesmo tempo me senti (e sinto) quase um nativo. 
     
Saiba mais sobre a longa viagem da fronteira a Salta e sobre os mascadores de coca no próximo capítulo. 

En la frontera...viento y hambre, siempre.



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