18/05/2011
De La Quiaca a San Salvador de Jujuy foram seis ou sete horas de estrada e de San Salvador pra Salta, mais duas. A primeira etapa ocorreu num ônibus simples, cheio da gente humilde do norte/nordeste argentino. São pessoas de origem indígena, sofridas, nada parecidas com porteños, rosarinos ou cordobeses. Não vou dizer que a viagem foi maravilhosa, simplesmente pelo fato de eu estar na Argentina. Foi osso passar tantas horas dentro do busão depois de ter viajado a noite inteira a bordo dum trem apertado.
Diversos homens mascavam a folha de coca do jeito que só os argentinos do norte conseguem fazer. Eles pegam uma porção média de folhas e as colocam num dos cantos da boca, prensando-as na bochecha e deixando-as ali durante muito tempo, às vezes durante horas. Na verdade, não mascam a folha, mas vão engolindo a saliva misturada com o caldo da erva.
Meu humor estava um pouco abalado. Não gostei da forma como fui atendido na rodoviária de La Quiaca. O rapaz me vendeu a passagem dizendo que o ônibus iria direto para Salta, mas depois fui descobrir que só iria até San Salvador de Jujuy e de lá teríamos que embarcar em outra condução. Eso no me gustó nada. Dentro do ônibus, uma bagunça só. Muita gente, sacolas e malas pra todo lado, 'mastigação' generalizada de la hoja, alguns borrachos.
Fiquei um tempão isolado numa leitura qualquer, esperando o humor melhorar pra eu poder socializar. E como sou um cara bão, rapidamente fiquei bem e puxei conversa com o rapaz que estava sentado ao meu lado mascando tranquilamente suas folhas de coca. Ele tinha a mesma idade que eu, se chamava Juan, era natural de alguma cidadezinha do interior da província de Jujuy e vivia do comércio de roupas, comprando de regalo na Bolívia e vendendo na Argentina. Rapaz simples, inteligente e de personalidade. Viu o livro do Che que eu carregava e disse: 'não gosto desse tipo'. Perguntei o motivo. Ele disse que achava aquele revolucionário argentino um assassino. Não discuti. Eu estava mal das palavras naquele dia e não conseguia entender tudo que Juan falava.
Em San Salvador me despedi do hermano com um aperto de mão forte. Tomei um lanche barato na lanchonete da rodoviária e esperei impacientemente a chegada do ônibus que me levaria até a cidade de Salta, conhecida como la linda. O espanhol Francisco, que a essa hora já devia estar curtindo a beleza exótica e caótica de La Paz, me dera boas referências sobre Salta e seu povo. Eu estava animado, mas ao mesmo tempo muito cansado, necessitando de um banho quente e de uma boa cama.
A viagem de San Salvador de Jujuy a Salta ocorreu num ônibus de dois andares. Fiquei no mais alto, só curtindo o visual da ruta argentina, a paisagem já familiar, a atmosfera típica de lugares já conhecidos, ainda que nunca frequentados. Na Argentina me sinto assim, já falei sobre isso. E repito. Grande experiência conhecer um país que sempre despertou interesse e mágica em mim. O triste foi (e é) perceber que a imaginação sobre algo desconhecido e admirado é sempre mais bela e perfeita do que a realidade que o conhecimento desse algo traz. Exemplos: A Argentina da memória que tenho dos meus sonhos e imaginações é melhor que a Argentina que descobri; a ideia que sempre tive do futebol em geral foi se desvanecendo à medida que passei a conhecer a realidade e os bastidores futebolísticos; a idolatria que eu exercia em relação aos meus músicos favoritos se perdeu conforme fui percebendo que são tão humanos como eu. Enfim, estou repetindo o óbvio, mas...a realidade desanima. Continuemos sonhando, então.
Meu humor estava um pouco abalado. Não gostei da forma como fui atendido na rodoviária de La Quiaca. O rapaz me vendeu a passagem dizendo que o ônibus iria direto para Salta, mas depois fui descobrir que só iria até San Salvador de Jujuy e de lá teríamos que embarcar em outra condução. Eso no me gustó nada. Dentro do ônibus, uma bagunça só. Muita gente, sacolas e malas pra todo lado, 'mastigação' generalizada de la hoja, alguns borrachos.
Fiquei um tempão isolado numa leitura qualquer, esperando o humor melhorar pra eu poder socializar. E como sou um cara bão, rapidamente fiquei bem e puxei conversa com o rapaz que estava sentado ao meu lado mascando tranquilamente suas folhas de coca. Ele tinha a mesma idade que eu, se chamava Juan, era natural de alguma cidadezinha do interior da província de Jujuy e vivia do comércio de roupas, comprando de regalo na Bolívia e vendendo na Argentina. Rapaz simples, inteligente e de personalidade. Viu o livro do Che que eu carregava e disse: 'não gosto desse tipo'. Perguntei o motivo. Ele disse que achava aquele revolucionário argentino um assassino. Não discuti. Eu estava mal das palavras naquele dia e não conseguia entender tudo que Juan falava.
Em San Salvador me despedi do hermano com um aperto de mão forte. Tomei um lanche barato na lanchonete da rodoviária e esperei impacientemente a chegada do ônibus que me levaria até a cidade de Salta, conhecida como la linda. O espanhol Francisco, que a essa hora já devia estar curtindo a beleza exótica e caótica de La Paz, me dera boas referências sobre Salta e seu povo. Eu estava animado, mas ao mesmo tempo muito cansado, necessitando de um banho quente e de uma boa cama.
A viagem de San Salvador de Jujuy a Salta ocorreu num ônibus de dois andares. Fiquei no mais alto, só curtindo o visual da ruta argentina, a paisagem já familiar, a atmosfera típica de lugares já conhecidos, ainda que nunca frequentados. Na Argentina me sinto assim, já falei sobre isso. E repito. Grande experiência conhecer um país que sempre despertou interesse e mágica em mim. O triste foi (e é) perceber que a imaginação sobre algo desconhecido e admirado é sempre mais bela e perfeita do que a realidade que o conhecimento desse algo traz. Exemplos: A Argentina da memória que tenho dos meus sonhos e imaginações é melhor que a Argentina que descobri; a ideia que sempre tive do futebol em geral foi se desvanecendo à medida que passei a conhecer a realidade e os bastidores futebolísticos; a idolatria que eu exercia em relação aos meus músicos favoritos se perdeu conforme fui percebendo que são tão humanos como eu. Enfim, estou repetindo o óbvio, mas...a realidade desanima. Continuemos sonhando, então.
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Salta não leva o título de 'la linda' a toa. É realmente uma bela cidade. Européia, diriam alguns, mas eu digo, é uma cidade tipicamente argentina. Surpreende pela organização urbana, pela arquitetura que mescla edifícios coloniais (conservados e valorizados) e prédios modernos, pelo relativo senso cívico da população, pelo comércio forte e vivo, pelos museus, pelas praças protegidas por guardas à noite, pelos passeios peatonais...
Meu primeiro dia ali foi daquele jeito, corrido. Não dava pra perder tempo, pois era fim de viagem, e eu precisava aproveitar. Cheguei 15h00 na cidade e me hospedei num hostel do centro, em quarto coletivo misto. Fechei passeio pra Cafayate, pro dia seguinte. Voltei pro hostel pra tomar banho e dormir um bocadinho. Recuperado, saí a procurar comida. Bife de Chorizo e cerveja artesanal local. A conta? Quase un regalo. Está barato ir pra Argentina, e virou moda. E isso me incomoda, a coisa da moda.
Fechei a noite tomando algumas garrafas da cerveja Salta num pub escuro e quase vazio da peatonal Balcarce. Depois de jantar e perambular pelas ruas, encontrei o famoso calçadão cheio de bares, pubs e boates da capital salteña. Escolhi, escolhi, escolhi e acabei optando pelo estabelecimento mais escuro e aparentemente mais underground do pedaço. Me dei bem, porque conheci uns caras gente fina, que inclusive fizeram questão de pagar a conta desse humilde brasileiro. O dono do bar e mais dois clientes eram, así como yo, torcedores do glorioso Racing Club de Avellaneda. E teve cantoria, na certa.
Sí, la nuestra es una hinchada diferente,
No es amarga como la de independiente...
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