06/05/2011
Calçadão de Puno.
Puno tem uma peatonal (rua onde só é permitida a circulação de pedestres, tipo um calçadão) de uns 500 metros ou mais. As pessoas circulam alegres e felizes por ali até oito, nove horas da noite, deixando o lugar, que já é iluminado, muito movimentado. Depois que as lojas e os restaurantes se fecham, pubs, karaokês e danceterias continuam funcionando até altas horas.
Foi nos arredores da tal peatonal que estiquei minha noite. Primeiro entrei num café, pedi um chá de coca, um petisco de acompanhamento (parecia uma bolacha de água e sal um pouco apimentada) e fiquei a observar um grupo de senhores vestidos feito dândis fora de moda que conversavam sobre política e literatura; achei aquilo fantástico, e foi meio que viagem no tempo, pois esse tipo de cena, no Brasil que eu conheço, só se vê em filmes que se passam no velho mundo. Que cena diferente. Homens velhos, alguns quase anciãos, tomando chá, fumando, falando sobre a eleição que estava para acontecer (Ollanta venceu a filha do Fujimori, com a bênção de Pachamama), sobre eleições anteriores, sobre Neruda e outros poetas chilenos e peruanos...como não caberia uma intervenção minha naquele papo e como eu estava muito ansioso e eufórico, até por conta de estar presenciando algo tão marcante como aquilo, saí dali rapidamente a procura dum lugar onde pudesse experimentar uma breja peruana e respirar o ar do Titicaca a longos haustos para me misturar definitivamente à gente de Puno e deixar meu rastro eternizado ali.
Haviam várias opções, mas fiz a escolha certa ao entrar no Positive Pub (se não era esse o nome, era bem parecido com isso). O lugar tinha o teto forrado com bandeiras de tudo quanto é país, várias mesas redondas cheias de gente bebendo e fumando, um telão onde passavam clipes de bandas de rock, reggae e hip hop, e um balcão pequeno, onde um casal estava a beber e namorar. Encostei no balcão também, pedi uma Cusqueña (cerveja local) e fiquei ali respirando, olhando os clipes que passavam no telão (lembro que me emocionei ao ver esse ) e medindo a energia noturna que pairava no ar, antes de me entregar a ela.
O garçom era gente boa e tinha estampadas na manga da camisa as bandeiras de Peru, Bolívia, Jamaica, Brasil e Uruguai. Perguntou de onde eu era e ficamos conversando sobre os atrativos de meu Brasil. Dali a pouco um sujeito de gorro marrom encostou no balcão, a um metro e meio de mim. O garçom serviu-lhe uma Cusqueña antes mesmo dele manifestar palavra alguma. Devia ser freguês antigo. Ele encheu o copo lentamente, fixando bem o olhar no que estava fazendo, como quem admira uma obra. Ergueu o braço e me falou: salud, salud! Eu respondi e voltei a conversar com o garçom. Percebendo meu mau español, o recém chegado entrou na conversa e perguntou de onde eu vinha. E ficamos grandes amigos a partir daquele momento. Eu e Michael.
Tomamos quatro garrafas no Positive Pub antes de nos mandarmos prum lugar mais movimentado. Michael me contou que estivera andando pelo Brasil durante um mês e que tem um irmão que mora em São Paulo. Percebi pelo seu jeito que era boa pessoa, confiável. Ele tinha aquele aspecto mestiço típico de certos peruanos e argentinos do norte, cujos olhos permanecem abertos quando o rosto está em repouso, ouvindo, mas se fecham e ficam pequenos quando falam ou se mexem pra expressar entendimento ao interlocutor. Era um tipo malandro, mas sangue bom. Sei reconhecer pessoas assim.
Positive Pub. Borracho?
Do Positive fomos pra outro pub cujo nome me é impossível lembrar. Estava rolando som ao vivo, primeiro uma banda local que tocava covers bem arranjados do bom e velho rock in roll e depois uma banda de Cusco que estava sendo muito aguardada pelo público. Gostei mais da primeira, não por bairrismo, por gosto mesmo. Mas gostei da segunda também, embora não conseguisse ficar olhando muito tempo para o vocalista. Ele tinha os cabelos longos, meio enrolados, mas era calvo de modo que sua testa se prolongava até o meio da cabeça. Feio de ver, mas até que cantava bem.
Michael conhecia todo mundo do lugar e foi logo me apresentando. Gostei da escuridão dali e como eu estava precisando emborrachar, a cerveja de 600 ml descia fácil, tomada no gargalo mesmo, tipo long neck. Fiquei contente e orgulhoso quando duas peruanas com quem conversei duvidaram que eu fosse brasileiro, dizendo que poderiam jurar que eu era espanhol. Sei lá, eu estava meio bêbado e solto. Quando estou assim, o castellano sai fácil, com um leve sotaque argentino. Mas elas deviam estar bem bêbadas também, sem conseguir ouvir, ver ou analisar nada direito.
Ah, quando digo que fiquei orgulhoso de ser confundido com um espanhol não significa que não gosto de ser brasileiro, pelo contrário. É que se fui confundido, é por que meu espanholzinho estava até que mais ou menos. Gracias por las clases Fernando Pastucho. Gracias por todo Fito, Cerati y Darín. Gracias por hablar conmigo cuando estamos borrachos, compañero Cecel. Amo vocês.
Três e pouco da manhã me mandei, pois teria que acordar cedo para o passeio do dia seguinte. Me despedi de Michael, combinando encontrá-lo no dia seguinte ao final da tarde no Positive Pub, e saí sem rumo na noite. Ao invés de pegar a esquerda peguei a direita, ou o contrário, e me perdi legal pelas ruas e pela madrugada fria peruana. Pensei em voltar pro pub, mas encontrei um sujeito que me pareceu boa gente perambulando pela calle e pedi socorro.:
- Amigo, donde estás la peatonal? Estoy borracho y perdido!
- Amigo, dos calles abajo
(ou arriba, não me lembro)
- Gracias, hermano, muchas gracias! Viva el Peru, viva Puno! Amo el Peru! Amo ustedes peruanos!!Muchas, muchas, muchas gracias!
(abracei o sujeito, que me olhou espantado, e me fui, duas pra arriba ou pra abajo, e lá estava a peatonal, e aqui estou eu, vivo).
Como entrei no hostel?
Não me lembro.
Michael conhecia todo mundo do lugar e foi logo me apresentando. Gostei da escuridão dali e como eu estava precisando emborrachar, a cerveja de 600 ml descia fácil, tomada no gargalo mesmo, tipo long neck. Fiquei contente e orgulhoso quando duas peruanas com quem conversei duvidaram que eu fosse brasileiro, dizendo que poderiam jurar que eu era espanhol. Sei lá, eu estava meio bêbado e solto. Quando estou assim, o castellano sai fácil, com um leve sotaque argentino. Mas elas deviam estar bem bêbadas também, sem conseguir ouvir, ver ou analisar nada direito.
Ah, quando digo que fiquei orgulhoso de ser confundido com um espanhol não significa que não gosto de ser brasileiro, pelo contrário. É que se fui confundido, é por que meu espanholzinho estava até que mais ou menos. Gracias por las clases Fernando Pastucho. Gracias por todo Fito, Cerati y Darín. Gracias por hablar conmigo cuando estamos borrachos, compañero Cecel. Amo vocês.
Três e pouco da manhã me mandei, pois teria que acordar cedo para o passeio do dia seguinte. Me despedi de Michael, combinando encontrá-lo no dia seguinte ao final da tarde no Positive Pub, e saí sem rumo na noite. Ao invés de pegar a esquerda peguei a direita, ou o contrário, e me perdi legal pelas ruas e pela madrugada fria peruana. Pensei em voltar pro pub, mas encontrei um sujeito que me pareceu boa gente perambulando pela calle e pedi socorro.:
- Amigo, donde estás la peatonal? Estoy borracho y perdido!
- Amigo, dos calles abajo
(ou arriba, não me lembro)
- Gracias, hermano, muchas gracias! Viva el Peru, viva Puno! Amo el Peru! Amo ustedes peruanos!!Muchas, muchas, muchas gracias!
(abracei o sujeito, que me olhou espantado, e me fui, duas pra arriba ou pra abajo, e lá estava a peatonal, e aqui estou eu, vivo).
Como entrei no hostel?
Não me lembro.
Tamo junto compañero Barbo...Hasta la victoria, Siempre!!!
ResponderExcluirlongos HAUSTOS?
ResponderExcluirtive que recorrer ao dicionário, sr. intelectual. rs
:p