05 de maio de 2011
Mesmo depois de estar próximo do céu, em Chacaltaya, de ter pisado na lua, no famoso Valle, e de ter mascado quantidades absurdas de folhas de coca, o soroche prosseguia me maltratando. Cheguei dos passeios, corri pro hostel pra pegar a mochila e acertar a conta, chamei um táxi e me mandei pro local (em frente ao cemitério municipal) de onde saem os ônibus, vans, micro-ônibus e similares rumo a Copacabana, cidade turística, banhada pelas águas mágicas do Lago Titicaca.
O portão verde à esquerda é o limite do Cemitério de La Paz.
Fui sentado, na primeira parte da viagem, ao lado de uma mulher que carregava seu filho no colo. Falei pouco com ela durante o trajeto de três horas e meia. Lembro que mais ou menos uma hora após deixarmos La Paz, o Titicaca já podia ser visto com toda sua imponência pela janela do micro-ônibus. A princípio pensei que pudesse ser algum outro lago, mas minha companheira de poltrona confirmou que era mesmo o lago sagrado, situado a quase 4000 metros de altitude.
A viagem foi tranquila. Em determinado ponto, já perto do final, foi necessário descer do ônibus e atravessar um canal (na verdade, um 'braço' do lago que impede a travessia por terra, pois não há pontes) num bote. O ônibus seguiu numa balsa maior e do outro lado, após a travessia, subimos nele novamente. Para entrar no bote foi necessário comprar um bilhete. Eu estava meio perdido, procurando a bilheteria e quando a encontrei um sujeito que parecia tão perdido quanto eu, porém muito menos preocupado, me perguntou: "de donde eres?"."De Brasil", respondi, e ele disse "Ah, eu também".
Thiago, se chamava o tal sujeito. Tinha 23 ou 24 anos, não lembro exatamente, mas me recordo bem da sua história de vida, que reproduzo aqui, resumidamente, por enxergá-la como exemplo de amor por uma causa, de desapego e de coragem.
Nascido e criado em Fortaleza, Thiago parte de sua terra natal rumo a São José dos Campos, após passar no vestibular do ITA, em algum curso de engenharia. Como a maioria dos universitários, se entrega a uma vida louca, desregrada, entorpecida por substâncias externas e por pensamentos tortos. Insatisfeito com o modelo de vida que levava, passa a buscar algo dentro de si, mas demora a encontrar. Se manda para a Nova Zelândia (ou Austrália? Não me lembro bem) onde passa uma temporada trabalhando, conhecendo a nova cultura e conhecendo a si mesmo. O gosto pelo simples e pela natureza, o desapego às coisas materiais, a busca incessante de respostas...essa soma de fatores fatalmente o leva a procurar meios alternativos de viver. Se torna vegetariano, abandona os vícios (exceto o cigarro) e passa a estudar sobre o poder curador das ervas. De volta ao Brasil, termina de largar a faculdade e parte pra Bolívia, onde vai viver no meio de uma comunidade indígena, aprendendo sobre plantas, magia, rituais e curas. Foi aí que o encontrei, quando ele partia da Bolívia ao Peru, para continuar sua saga.
Você aí, do outro lado da tela, se acha corajoso?
Nascido e criado em Fortaleza, Thiago parte de sua terra natal rumo a São José dos Campos, após passar no vestibular do ITA, em algum curso de engenharia. Como a maioria dos universitários, se entrega a uma vida louca, desregrada, entorpecida por substâncias externas e por pensamentos tortos. Insatisfeito com o modelo de vida que levava, passa a buscar algo dentro de si, mas demora a encontrar. Se manda para a Nova Zelândia (ou Austrália? Não me lembro bem) onde passa uma temporada trabalhando, conhecendo a nova cultura e conhecendo a si mesmo. O gosto pelo simples e pela natureza, o desapego às coisas materiais, a busca incessante de respostas...essa soma de fatores fatalmente o leva a procurar meios alternativos de viver. Se torna vegetariano, abandona os vícios (exceto o cigarro) e passa a estudar sobre o poder curador das ervas. De volta ao Brasil, termina de largar a faculdade e parte pra Bolívia, onde vai viver no meio de uma comunidade indígena, aprendendo sobre plantas, magia, rituais e curas. Foi aí que o encontrei, quando ele partia da Bolívia ao Peru, para continuar sua saga.
Você aí, do outro lado da tela, se acha corajoso?
***
Em Copacabana, eu e Thiago nos despedimos, com a promessa de mantermos contato. Eu fui prum hostel e ele se pra beira do Titicaca, onde iria acampar. Ele dormiu pensando não sei em que. Eu dormi matutando a história de vida que ele havia me contado, pensando se algum dia, nessa vida ou na próxima, eu encontraria dentro de mim a coragem de partir rumo ao nada, como ele fizera.
Essa música vai pro Thiago... E pra todo mundo que já fala ou um dia falará sobre amor à vida (clique e ouça).
Essa música vai pro Thiago... E pra todo mundo que já fala ou um dia falará sobre amor à vida (clique e ouça).
Thiago e eu.