04 de maio de 2011
ALGUMA INFORMAÇÃO:
- ALTIPLANO BOLIVIANO: assim é chamada a região central da Bolívia; trata-se de um imenso planalto, que antecede as Cordilheiras dos Andes.
- SOROCHE (ou mal de altura): ocorre a partir de 2400 metros de altitude; a quantidade de oxigênio na atmosfera começa a diminuir conforme a altitude vai ficando mais elevada e pessoas que não estão acostumadas a essa realidade podem sofrer cefaleia, náuseas, indigestão e indisposição; em casos mais graves, geralmente em lugares muito elevados (principalmente na "zona da morte" - acima de 7000m de altura), pode ocorrer edema cerebral ou pulmonar.
- OS NATURAIS de La Paz são denominados PACEÑOS.
- LA HOJA DE COCA (a folha de coca): usada pelos povos andinos como analgésico, estimulante, inibidor do apetite e da sede; conhecida desde muito antes do Império Inca; considerada sagrada por muita gente.
PRESTE ATENÇÃO: LA HOJA DE COCA NO ES DROGA!
A catedral e as casas sobre os morros - La Paz
O banheiro do ônibus de dois andares que me levou de Santa Cruz de la Sierra a La Paz estava interditado e o ar condicionado não surtia o efeito desejado no andar de cima, onde meu corpo cansado se encontrava. Foram dezessete horas ali dentro, passando calor e frio, com direito a apenas duas descidas do ônibus para alongar as pernas.
A primeira parada foi num restaurante à beira da estrada, para cenar. Na verdade não era bem um restaurante, mas um imenso "puxadinho" com duas mesas enormes onde várias pessoas comiam juntas. O chão do lugar era de terra batida.
Sobre uma mesa menor havia uma panela gigante cheia de arroz misturado com carne de terceira, uma vasilha de mandioca cozida e duas jarras de suco. O mesmo homem que servia a refeição recebia o pagamento, algo em torno de 10 bolivianos (mais ou menos 3 reais, salvo engano). Comi aquilo, a princípio, com certo receio, mas depois me entreguei. Já ingeri coisa muito pior no Brasil.
Sobre uma mesa menor havia uma panela gigante cheia de arroz misturado com carne de terceira, uma vasilha de mandioca cozida e duas jarras de suco. O mesmo homem que servia a refeição recebia o pagamento, algo em torno de 10 bolivianos (mais ou menos 3 reais, salvo engano). Comi aquilo, a princípio, com certo receio, mas depois me entreguei. Já ingeri coisa muito pior no Brasil.
A segunda parada foi logo pela manhã. Eu havia acordado pouco antes do sol nascer e resisti a um sono avassalador pra poder apreciar a aurora no altiplano boliviano. Depois, não consegui mais dormir. Paramos numa cidadezinha chamada Caracollo para comprarmos algo pro desayuno. Ali estava a paisagem que eu fora buscar: as montanhas ao redor, o frio, a terra, o povoado perdido no meio daquele lugar inabitável prum ser humano da minha estirpe. Pensei estar em estado de graça, naquele momento.
Fiquei ao sol, tentando inutilmente me esquentar, enquanto as pessoas comiam algo no refeitório do mercadinho ao lado. Dois bolivianos também tremiam de frio, perto de mim. Puxei conversa, perguntando se eles sabiam o nome do povoado em que estávamos. Eles disseram que não, que estavam pensando em me perguntar a mesma coisa. Nesse momento, outro sujeito, que estava no mesmo ônibus que eu e com quem eu já havia conversado brevemente na rodoviária de Santa Cruz, se aproximou. Disse que o povoado se chamava Caracollo, situado 3800 metros acima do nível do mar, separado de La Paz por mais ou menos 150 km. Perguntei se ele sabia a que temperatura estávamos. Ele disse que devia estar fazendo uns cinco ou seis graus negativos. Caralho!
De Caracollo a La Paz foram duas horas e meia de sofrimento. O sol batia na janela do ônibus impiedosamente, a cortina curta não permitia que eu conseguisse me proteger por completo do Astro Rei e uma dorzinha de cabeça chata começava a me incomodar, algo parecido com uma ressaca. O soroche, ou mal das alturas, havia me pegado.
Rua de La Paz
A rodoviária da capital boliviana é pequena, em vista do tamanho da cidade. Estavam ocorrendo protestos e passeatas pelas ruas de modo que quando informei ao taxista o endereço pra onde eu queria ir ele me disse que era melhor seguir a pé, pois de carro seria impossível chegar. Cazemiro, o homem que eu conhecera na rodoviária de Santa Cruz e com quem conversei em Caracollo, disse que ia mais ou menos perto do local onde ficava meu hostel, então seguimos juntos.
Andamos vários quarteirões e nada de chegarmos ao local. Notei que Cazemiro não tinha certeza de onde ficava a Calle Aroma, onde estava o hostel. Aquelas calçadas abarrotadas de gente, aquele homem falando um espanhol rápido, quase impossível de entender, a incerteza de estarmos indo pro lugar correto, minha dor de cabeça e o cansaço físico: caos total. Comecei a ficar desconfiado e resolvi parar num posto de informações turísticas. A atendente também não sabia onde era a Calle Aroma. Ligou para alguns lugares e ninguém informava. Começamos a procurar no mapa e depois de um tempo eu acabei encontrando. Realmente era uma vielinha, difícil de se achar.
Orientado pelo mapa, dispensei logo que pude a companhia de Cazemiro. Achei que ele ia querer cobrar algo por ter me 'guiado', mas não. Ele se despediu me desejando boa sorte com sinceridade. Agradeci e segui rumo ao hostel, numa sequência inacreditável de ladeiras que me fizeram perceber uma vez mais o quanto somos limitados, nós os seres humanos. Cheguei no hostel, deixei as coisas sobre a cama e fui até a agência de turismo ao lado para acertar meus passeios para o dia seguinte.
Comi umas frutas no almoço, dormi um pouco e logo segui pra andar pela cidade. A dor de cabeça estava terrível, parecia que eu havia bebido todas na noite anterior, tipo quando saio pra tomar uma com meu brother Marcel, mas terminamos por tomar todas, pulando de bar em bar até que não haja mais nenhum aberto. A falta de disposição também me pegava, mas sou guerreiro, ex-carteiro, ex-hamburgueiro, e insisti.
Na Calle de las Brujas - uma rua cheia de lojinhas onde são vendidas ervas, roupas típicas, lembranças de viagem, artesanatos, etc - comprei alguns regalos e um saquinho de HOJAS DE COCA.
Num café qualquer (onde o garçom adivinhou minha nacionalidade após eu falar três palavras, o que me deixou puto - afinal, que porra era aquela? - será que meu espanhol estava tão abrasileirado assim?) tomei um chá de coca. Confesso que mesmo depois de bastante tempo não senti que o chá tivesse feito efeito algum, pois o soroche continuava e parecia que não ia acabar nunca mais.
Uma chuva fina e fria começou a cair, mas isso não me impediu de caminhar até o centro da cidade pra conhecer as praças e os museus principais. O MAM (Museo de Arte Moderna de La Paz) me encantou fortemente. Tirei, na miúda, algumas fotos ali de dentro, pra guardar de recordação e compartilhar. Comprei uma camisa cor de abóbora também. E saí do museu com a o corpo e as roupas seca, após ter andado uns vinte minutos de baixo da garoa paceña, e com a alma lavada. Visitar museus é algo que realmente me purifica. Um dia desses falo mais sobre isso...
Andamos vários quarteirões e nada de chegarmos ao local. Notei que Cazemiro não tinha certeza de onde ficava a Calle Aroma, onde estava o hostel. Aquelas calçadas abarrotadas de gente, aquele homem falando um espanhol rápido, quase impossível de entender, a incerteza de estarmos indo pro lugar correto, minha dor de cabeça e o cansaço físico: caos total. Comecei a ficar desconfiado e resolvi parar num posto de informações turísticas. A atendente também não sabia onde era a Calle Aroma. Ligou para alguns lugares e ninguém informava. Começamos a procurar no mapa e depois de um tempo eu acabei encontrando. Realmente era uma vielinha, difícil de se achar.
Comi umas frutas no almoço, dormi um pouco e logo segui pra andar pela cidade. A dor de cabeça estava terrível, parecia que eu havia bebido todas na noite anterior, tipo quando saio pra tomar uma com meu brother Marcel, mas terminamos por tomar todas, pulando de bar em bar até que não haja mais nenhum aberto. A falta de disposição também me pegava, mas sou guerreiro, ex-carteiro, ex-hamburgueiro, e insisti.
A Calle de las Brujas
Na Calle de las Brujas - uma rua cheia de lojinhas onde são vendidas ervas, roupas típicas, lembranças de viagem, artesanatos, etc - comprei alguns regalos e um saquinho de HOJAS DE COCA.
Num café qualquer (onde o garçom adivinhou minha nacionalidade após eu falar três palavras, o que me deixou puto - afinal, que porra era aquela? - será que meu espanhol estava tão abrasileirado assim?) tomei um chá de coca. Confesso que mesmo depois de bastante tempo não senti que o chá tivesse feito efeito algum, pois o soroche continuava e parecia que não ia acabar nunca mais.
Uma chuva fina e fria começou a cair, mas isso não me impediu de caminhar até o centro da cidade pra conhecer as praças e os museus principais. O MAM (Museo de Arte Moderna de La Paz) me encantou fortemente. Tirei, na miúda, algumas fotos ali de dentro, pra guardar de recordação e compartilhar. Comprei uma camisa cor de abóbora também. E saí do museu com a o corpo e as roupas seca, após ter andado uns vinte minutos de baixo da garoa paceña, e com a alma lavada. Visitar museus é algo que realmente me purifica. Um dia desses falo mais sobre isso...
À noite tomei um banho quente, comemorei a eliminação em massa dos times brasileiros da Copa Libertadores (só o Santos, time pequeno que tá querendo ficar grande, permaneceu), rezei agradecendo por estar ali e suplicando pra acordar sem dor de cabeça no dia seguinte, masquei umas folhas de coca com a habilidade de um nativo, e dormi. Acordei no meio da noite com Tribalistas e a velha infância na cabeça. Mas logo dormi de novo.
Foto tirada no museu. Fala algo sobre o deserto...
não me lembrava dos tribalistas, mas lembrava dessa foto do deserto e da piada infeliz que fiz.
ResponderExcluirdesnecessaria.
mas o melhor foi olhar pra ela, agora, e ter outro tipo de visão, talvez mais próxima ao que ela de fato representa.
gostei.
=)