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23 - Travessia

Cordillera, sal, soledad y... arena sin fin


O deserto não tem fim, caros amigos. Quem deu cores a esta viagem (e a este blog) foi mesmo o deserto de areia (e pedra), mais que o de sal, mais que a solidão, mais que as montanhas.

15/05/2011

    Acordei cedinho, considerando-me limpo e desinflamado (embora meus músculos doessem um pouco) devido ao banho frio que havia tomado à noite, antes de dormir. Botei o mochilão nas costas, segurei a bolsa menor nas mãos e saí do Chiloé, que àquela hora estava vazio. Caminhei devagar - as mochilas estavam mais pesadas do que nunca - pelas ruas de San Pedro de Atacama esperando encontrar algum estabelecimento aberto onde eu pudesse comprar água. Dentro de poucos minutos eu partiria pra travessia de três dias que se inicia em San Pedro, Chile, passa pelo deserto boliviano (continuação do Atacama), pelas lagunas coloridas (branca, verde, colorada...) e termina no deserto de sal, em Uyuni, Bolívia. Levar água e alguma comida é essencial. Eu só comprei água, pra depois poder falar pra todo mundo que sou quase herói.
    Cheguei em frente à agência, de onde sairia o micro que nos conduziria até a fronteira, cinco minutos antes do horário combinado. Um casal de ingleses já esperava. Apresentação básica (nome, nacionalidade, bom conhecer você, meio sorriso). A moça parecia amigável e discretamente curiosa, o homem não. Daí dois minutos chegou uma japa sorridente, cumprimentando a mim e aos ingleses com um aceno de cabeça e indo se sentar na calçada. Logo depois chegou a russa, que eu já havia conhecido na noite anterior, quando fui fechar o passeio na agência de viagem. 'Tô fudido pra me comunicar com esse povo', pensei. Mas eis que chegou o espanhol, já conhecido do passeio ao Valle de la luna, e o frio na barriga diminuiu.
    Foi chegando mais gente: um grupo de ingleses que iria conosco até a divisa Chile/Bolívia e dali seguiria de bike (paguei pau pra esses caras), um brasileiro, dois argentinos, uma penca de europeus. Na fronteira, a equipe do micro se dividiu em duas ou três e eu acabei ficando no mesmo grupo do espanhol, da russa, da japa e do casal de ingleses. O homem que conduziria a Toyota dentro da qual passaríamos horas e horas viajando, um boliviano, chamava-se Doro.



    O convívio dentro da caminhonete Land Cruiser 4X4 foi muito bom. A inglesa ouvia as explicações do guia, em espanhol, e traduzia pra russa, pra japa e pro marido, em inglês. E no começo, quando a russa ou a japa queriam falar algo comigo ou com o espanhol, passavam pra inglesa, que traduzia pra nós em espanhol. Com o passar das horas nossa comunicação melhorou, a vergonha foi embora, o medo de arriscar e errar também. Com muita mímica, um pouco de linguagem verbal, um pouco de intuição, conseguimos todos nos entender.

    O primeiro dia de travessia contempla a passagem pelas várias lagunas (ver fotos). Paramos pra jantar e dormir num barracão próximo à Laguna Colorada, de longe a mais impressionante de todas, a mais de 4000 metros de altitude.
    À noite, tomei um copo de vinho, comi e saí pra andar um pouco pelas redondezas. O espanhol, que tinha uma lanterna, me acompanhou. Paramos próximos à laguna e ficamos em silêncio a contemplar o frio, as estrelas, o barulho quase inexistente. Ele não aguentou por muito tempo e voltou ao alojamento. Eu permaneci por mais alguns minutos, pensando se realmente seria possível ver discos voadores ali ou no deserto de sal, conforme havia me dito certo dermatologista boliviano com quem eu conversara meses antes da viagem. E pude ter certeza que sim, era possível ver qualquer coisa ao lado da Laguna Colorada, numa altura de 4000 acima do nível do mar, com a temperatura abaixo de zero, no meio do desértico altiplano boliviano. Me emocionei. Agradeci pela oportunidade de estar ali. Não consegui pedir perdão pelas coisas erradas que fizera, pois isso não me tocava naquele momento. Fui deitar. E rapidamente sonhei acordado e depois dormi.




Laguna Verde.









Veronika, Evi, Andrew, Francisco e eu. 

Gêiseres.


Laguna Colorada.



Alojamento.

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