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24 - Da areia ao sal

16/05/2011

     
     Somente eu logrei uma boa e reconfortante noite de sono no gelado alojamento da Laguna Colorada. O resto do pessoal (pobres europeus e asiáticos) passou todo o café da manhã reclamando por não ter conseguido se  aquecer, por ter estranhado a poeira, por ter acordado várias vezes durante a noite. Dei um sorrisinho bem brasileiro quando me perguntaram e falei: "dormi de sonhar...com discos voadores".
     Tínhamos um dia inteiro de travessia pela frente, então, necessitávamos de muita força. Tomei chá de coca e  café, e comi alguns pedaços de pão com margarina. Temi que algum revertério me pegasse pelo caminho, o que obrigaria o simpático Doro a parar a Toyota para eu fazer o simpático 'dois' nas areias do Deserto de Siloli. Certamente, se isso ocorresse, eu não encontraria muita dificuldade, mas mesmo assim fiquei apreensivo, torcendo contra.
     O último banco da caminhonete (na frente com o motorista estava o inglês, que havia passado mal de soroche durante a noite; no segundo banco, as três mulheres; no último, eu e Francisco, sujeito mais que gente fina, que inclusive disponibilizou alojamento em sua casa, caso um dia eu queira conhecer a Espanha) estava muito menos confortável no segundo dia do que no primeiro. Doía a bunda, os joelhos, as costas, o pescoço. De vez em quando alguma das meninas perguntava se queríamos trocar. Eu dizia que não, que estava ótimo, afinal, soy hombre, carajo.
     Na verdade, o segundo dia foi mais difícil que o primeiro pra todo mundo. O pessoal não conversava tanto, nem se demorava muito nas fotos. Como eu havia curtido muito nosso entrosamento no dia anterior, fiquei meio ressabiado e comentei com Evi, a inglesa, sobre isso. Ela disse que todo mundo devia estar meio cansado. Concordei, mas achei que além do cansaço, as pessoas haviam sido capturadas pelo espírito do deserto, que obriga todos a se recolherem numa solidão de reflexão, que pode ser triste ou alegre. Naquele dia eu fiquei mais triste que alegre no período da manhã, mas à tarde reverti a situação.

     A paisagem do segundo dia é tão bonita quanto a do primeiro. Destaco abaixo, na foto, a Árbol de Piedra, uma formação rochosa que devido à erosão adquiriu o formato de uma árvore.

Árbol de piedra. O cara bonito aí sou eu.

     Almoçamos num povoado cujo nome não me lembro e paramos no meio da tarde numa cidade chamada San Cristóbal, onde há uma mina de carvão em atividade. Não visitamos a mina, apenas andamos um pouco pelas ruas, pela feira e compramos sorvete caseiro de uma senhora gorda. A russa não parava de tirar fotos e vira e mexe fazia pose e pedia pra um dos outros (normalmente eu) take pictures dela. Haja paciência.

     Chegamos em Uyuni no final da tarde. Deixei as coisas no quarto e saí sem tomar banho (já ia fazer dois dias que meu corpo não via água) pelas ruas da cidade que dá nome ao maior deserto de sal do mundo, o Salar de Uyuni. Na estação de trem comprei passagem para Villazón, na divisa com a Argentina, meu próximo destino e logo em seguida parei numa lan house para conferir o resultado da final do campeonato paulista (o jogo havia ocorrido no dia anterior) entre o meu Corinthians e certo time pequeno. Perdemos. Fiquei com vontade de quebrar a lan house, mas, ao invés disso, peguei uma cerveja e andei, andei, andei. Depois voltei ao hotel, tomei banho, jantei, escutei piada do espanhol Francisco, que sabia da minha torcida pelo Timão e também consultara o resultado na internet, e dormi. No dia seguinte, bem cedinho, partiríamos para o salar, outro ponto alto da viagem.

     Dá-lhe fotos, senão me puxam a orelha.

Bem louco. 



Vixe, fartô água no radiadô... 


 Mão aberta pra dar e receber. Mais pra receber, confesso.

 Dessa ela gostou.

Pescoço, mãos e câmera pra fora da janela. 







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